GOVERNO DO CEARÁ PROCESSA POLICIAIS QUE DECLARAM VOTA NA OPOSIÇÃO QUE APEQUENA A GESTÃO
O TSE pediu reforço de tropas do Exército para o segundo turno no Ceará, por entender que as autoridades locais não possuem as condições de garantir a normalidade do processo eleitoral. Numa atitude sensata, o governo estadual concordou com a medida, reconhecendo, ainda que indiretamente, que as coisas realmente fogem ao seu controle. De certo modo, deu a entender que deseja a restauração de um ambiente de relativa tranquilidade, contribuindo para acalmar os ânimos mais exaltados.
O surto de sensatez, porém, durou pouco, pois logo em seguida a Secretaria de Segurança abriu processo administrativo contra 18 policiais militares que apoiaram publicamente o Capitão Wagner, eleito deputado estadual com votação recorde, e Flávio Sabino, eleito deputado federal. Ambos são do PR e apoiam Eunício Oliveira para o Governo do Estado. Segundo a SSPDS, PMs não podem fazer manifestações político-partidárias. É estranho, uma vez que podem ser candidatos. Mas o problema mesmo é que o rigor da medida recai apenas sobre policiais ligados à oposição, pois os que declararam publicamente apoio ao candidato governista Camilo Santana, do PT, não foram incluídos na lista de processados. São dois pesos e duas medidas. É inegável, portanto, que se trata de perseguição política.
É mais um capítulo na crise de comando entre governo e setores das polícias no Ceará. Ainda que acredite estar com a razão, o momento escolhido para processar os policiais, na véspera de uma votação e com todas as suspeitas que existem de parcialidade, foi inadequado. Além disso é inadmissível permitir que a estrutura administrativa responsável pela área seja contaminada pelo calor das emoções da disputa eleitoral, agindo como agente político, colocando gasolina na fogueira e deixando de lado qualquer pudor sobre a isenção que se espera dos órgãos de estado.
Desse modo, denúncias de que o governo estadual e a prefeitura de Fortaleza estariam pressionando seus funcionários a apoiarem Camilo Santana ganham força, afinal, se até policiais são perseguidos, imagine o resto. E as denúncias existem. Se não correspondem aos fatos, pelo menos agora possuem verossimilhança. O governo assim dá um tiro no próprio pé e perde a credibilidade quando se apequena no papel de instituição a serviço de uma militância partidária. Para complicar a situação e desacreditar de vez qualquer ideia de neutralidade institucional, o governador Cid Gomes, que deveria zelar pela ordem e pela imagem da gestão, deixou o cargo justamente para fazer… campanha eleitoral! Os liderados refletem as ações da liderança.
E por fim, essa confusão atrapalha mesmo o próprio candidato oficial, pois ao fazer da eleição um componente de acirramento na crise de comando na segurança, ao apostar na divisão entre governistas e oposicionistas dentro das corporações policiais, o governo acaba inviabilizando o diálogo de Camilo com a categoria, sua principal promessa para a área.
Depois alguns governistas mais afoitos saem acusando os outros de armação, sem perceber que os fatos têm consequências que ultrapassam a passionalidade das campanhas eleitorais.
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